Rio de Janeiro em transe: novo retrato metropolitano

Rio de Janeiro em transe: novo retrato metropolitano

O antigo sobrado estava meio esquecido, pichado e com infiltrações. Ali, desde 1971, existia a lavanderia e tinturaria Jandaia, no número 97 da Rua Voluntários da Pátria. Eis que os novos ventos do mercado imobiliário sopram, e os proprietários portugueses decidem passar o ponto no fim de 2012, auge da valorização imobiliária de Botafogo.

O livreiro Rui Campos alugou o imóvel, que antes abrigou até um cortiço, e está investindo mais de R$ 2 milhões no velho casarão de 1.200 m²: ele abrirá este ano a maior loja de rua da Livraria da Travessa, a primeira fora do eixo Ipanema-Leblon-Centro-Barra. Os fregueses com seus sacos de roupa suja serão substituídos em breve por clientes em busca de livros, DVDs, cafés gourmet e um ambiente sofisticado. É um dos sinais mais recentes de que a cidade está em transformação.

Para compreender essas transformações, O GLOBO conversou com especialistas, urbanistas e profissionais do mercado imobiliário carioca para não só mapear os bairros onde há mudança de população, mas igualmente para tentar amarrar variáveis socioeconômicas e culturais que poderiam indicar esse processo.

Para o professor e especialista em Direito Imobiliário Mário Cerveira Filho, o troca-troca de moradores nos bairros ganhou combustível a partir de 2010, com a nova lei do inquilinato, que mudou a relação entre inquilinos e proprietários.

– Antes, o inquilino poderia sofrer duas ações de despejo por falta de pagamento a cada 12 meses. Agora, somente haverá uma oportunidade a cada 24 meses.

O presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Sérgio Magalhães, alerta que o fenômeno da gentrificação não pode ser visto destituído da perda de qualidade de vida de áreas importantes da cidade:

– A gentrificação tem um simétrico, um contraponto que não podemos perder: a expulsão pela deterioração, pela degradação ambiental e urbanística. É o que acontece na Zona Norte, um fator socialmente talvez até mais grave porque há mais áreas em degradação do que em recuperação, saem mais por isso do que pela qualificação do ambiente.