FERNANDO PIVA MUDA LAYOUT E CRIA DÉCOR QUE RESISTE AOS MODISMOS

Da mistura poderosa de bom design, arte de valor e materiais para lá de nobres, surge a consistência atemporal deste apartamento

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O ébano de macassar é visto nas portas de entrada e do lavabo, na companhia de quadros de Macaparana (em primeiro plano, à esq.) e escultura de Cássio Lázaro (à dir.)

Como resistir ao tempo? A resposta, claro, rende divagações filosóficas, mas em matéria de arquitetura e décor, passa por um desenho que tenha força para emocionar em qualquer época. O engenheiro civil Iberê Gibin Junior e o economista José Luís Melo Maia se viram às voltas com essa questão ao pisar neste apartamento de 300 m² no Campo Belo, em São Paulo.

 

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A antiga churrasqueira deu espaço a um bar envolto por um painel de ébano de macassar e ocupado por um sofá de Jaime Hayon e uma cadeira de Jehs+Laub, ambos da Fritz Hansen, na Atec, sobre tapete do Empório Beraldin – arandelas de Ingo Maurer, na FAS, e retrato de Mick Jagger por Terry O’Neill, na Galeria Lume

“A amplitude do pé-direito duplo nos encantou. Buscávamos algo maior e ficamos impressionados”, diz Iberê. Ele vivia um novo momento. Após 20 anos de trabalho em uma grande construtora, o profissional, apaixonado por obras, arriscou criar sua empresa de reformas de imóveis, a Iberê Gibin Soluções em Engenharia e Arquitetura. Seria a primeira vez que atenderia a si mesmo como cliente. “Minha marca preza pelos detalhes de acabamento, que fazem toda a diferença.

 

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Poltrona de Sergio Rodrigues, da Dpot, acompanhada de luminária de Edward Barber & Jay Osgerby, da Flos, coabitam o canto do quarto do casal, sobre tapete do Empório Beraldin – gravura vermelha de Arcangelo Ianelli

“Aqui, testei muitas coisas e pensei em tudo com mais personalidade e ousadia”, conta. Não era só a reforma, lógico. Interiores com uma atmosfera nova exigiam alguém que soubesse empregar o estilo contemporâneo que o casal desejava, capaz de equilibrar boa arquitetura, bom design, cores elegantes, fugir dos clichês. Assim surgiu o nome do decorador Fernando Piva, de olhar cosmopolita e talento inegável para conceber ambientações consistentes.

 

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No living de pé-direito duplo, com parede de ébano de macassar até a metade, vêem-se um pendente da Next, na FAS, foto de Mário Cravo Neto, no WDP Escritório de Arte, sofá e tapete da Minotti, na Minotti por Atrium, e par de poltronas da Maxalto, na Casual Interiores

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Envolvida por papel de parede da Armani Casa, na Casual Interiores, a sala de jantar exibe mesa e cadeiras da Minotti, na Minotti por Atrium, sob pendentes de Jean-François D’Or para a Ligne Roset – fotografia de Claudio Edinger (ao fundo), na Galeria Lume

Os proprietários tinham em mãos uma planta original com três suítes, uma varanda e muitas divisões. Mas um vasto living para receber amigos cabia melhor em seu estilo de vida. “É um tempo de consolidação. Temos mais prazer em estar em casa do que em badalar por aí”, conta o engenheiro, que já abriu as portas para 70 pessoas em uma única noite. Por isso, Piva propôs integrar um dos quartos e a varanda a um estar único, que agora concentra com fluidez bar, biblioteca, sala com lareira e jantar.

Materiais nobres estão na maioria dos cômodos. Um deles é o ébano de macassar, que reveste meia altura de uma parede do living e o canto do bar. Contrapostos à sua robustez, cristais e vidros nos acessórios e na iluminação trazem leveza ao visual. No mobiliário, estofados com tecidos de estirpe dão um ar de alta alfaiataria ao conjunto, o que só reforça a vocação perene do décor. Poucas estampas podem ser percebidas em itens facilmente alteráveis, como o papel de parede da cozinha. “Preferi as texturas, que são uma forma de adicionar informação visual”, revela Piva.
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O antigo terraço, agora parte do living, ostenta uma luminária de piso de Ayala Serfaty, na Dominici, ao lado da poltrona Mole, de Sergio Rodrigues, e de um sofá de Baba Vacaro, ambos da Dpot, e de uma mesa de centro da Micasa – fotografia de Akira Cravo, na Galeria Lume

Os tons sóbrios traduzem um ponto da personalidade de Iberê e José Luís, juntos há 16 anos.“Acredito que essas tonalidades tenham poder, peso. Isso torna tudo mais intenso e duradouro”, diz o decorador. As cores escuras ganham a moldura clara de móveis ou paredes – e nesse contraste se destaca a coleção de arte, composta por obras de nomes como Vik Muniz e Terry O’Neill.

 

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A textura com efeito 3D do papel de parede, na Orlean, marca o visual do lavabo, que tem esculturas de Jonathan Adler

Descobrir o melhor lugar para as peças, o volume perfeito, a assinatura de maior efeito em um espaço são coisas que só o tempo traz, e isso, Iberê e José Luís já sabem o quanto vale. “Foi tudo bem pensado e ficamos muito felizes. Amadurecendo a ideia do apartamento, houve tempo para comprar itens em viagens e entender do que gostávamos mais. Estamos na fase de colecionar arte, com um acervo que dialoga com as escolhas, e apreciamos muito. É o que realmente fica.”

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Outro papel de parede, na Orlean, dá movimento à cozinha, que traz pendente da Diesel, na Lumini, bancada de Corian e cadeiras de Philippe Starck, da Kartell

Fonte: casavogue.globo.com