Os melhores e piores mercados imobiliários do mundo

Após anos de boom, imóveis em São Paulo subiram menos de 1% no último trimestre de 2014

Após anos de boom, imóveis em São Paulo subiram menos de 1% no último trimestre de 2014

 

Se você tem uma casa de campo na Irlanda, uma mansão em uma ilha artificial em Dubai ou até um pequeno apartamento em Tallinn, a capital da Estônia, é muito provável que a vida esteja lhe sorrindo neste momento.

O que esses três destinos têm em comum? Sua posição como os mercados imobiliários com melhor desempenho do mundo, em termos de valorização da propriedade, segundo dados coletados pela consultoria britânica Global Property Guide no quarto trimestre de 2014.

Esses três mercados sofreram grandes quedas durante a crise econômica mundial, em 2008, mas o disparo sofrido posteriormente pelos preços dos imóveis foi impressionante.

Outras partes do mundo já não tiveram tanta sorte. Entre os 41 lugares analisados, os piores colocados são Kiev, na Ucrânia, Pequim, na China, e toda a Rússia.

São Paulo é a única cidade brasileira no ranking, no 30º lugar, mostrando que os preços dos imóveis cresceram apenas 0,83% no período analisado, depois de quase cinco anos de aumentos percentuais nas casas dos dois dígitos.

Saiba o que está por trás dessas tendências:

Irlanda

 

Primeira do ranking, Irlanda se beneficiou da instalação de grandes multinacionais no país

Primeira do ranking, Irlanda se beneficiou da instalação de grandes multinacionais no país

 

O chamado Tigre Celta foi um dos países mais afetados pela crise de 2008. Mas desde então a economia da Irlanda se tornou mais forte – para alguns a recuperação foi algo digno de um conto de fadas.

Benefícios fiscais bastante convidativos também ajudaram no processo. Grandes empresas multinacionais como o Google e o PayPal instalaram seus escritórios europeus no país, atraindo mais pessoas vindas de fora e procurando por lugares para morar.

Segundo Matthew Montagu-Pollock, editor do Global Property Guide, a Irlanda pode se vangloriar de “uma economia fundamentalmente sólida”. O país hoje abriga o melhor mercado imobiliário do mundo, com uma alta de 16,5% nos preços em 2014, segundo a publicação.

Edifícios novos construídos antes do estopim da crise – e que permaneceram vazios por alguns anos – agora estão totalmente habitados.

Os preços dispararam e novos prédios estão sendo erguidos. “Não pensei que seria possível construir tantas novas obras em Dublin”, afirma Montagu-Pollock. “Agora, o boom da construção civil ultrapassou os limites da capital.”

O único senão é que a Irlanda tem um longo histórico de altos e baixos no setor imobiliário.

Dubai, Emirados Árabes Unidos

 

Atingido em cheio pela crise de 2008, mercado imobiliário de Dubai retomou ritmo frenético

Atingido em cheio pela crise de 2008, mercado imobiliário de Dubai retomou ritmo frenético

 

O mercado imobiliário de Dubai foi outro atingido em cheio pela crise de 2008. Os imóveis perderam metade de seu valor praticamente da noite para o dia, e empreendimentos no valor de centenas de milhares de dólares foram suspensos ou cancelados, deixando investidores de mãos abanando.

No entanto, assim que o mundo começou a se recuperar economicamente, a demanda por propriedades ressurgiu rapidamente e com muito vigor. As construções foram retomadas e, pouco tempo depois, os compradores abocanharam seus imóveis no mesmo ritmo frenético de antes.

Apesar disso, há alguns sinais de que esse movimento está se reduzindo gradualmente: o número de transações imobiliárias em abril de 2015 foi metade do volume durante o mesmo período em 2014. E a empresa de auditoria e consultoria Deloitte previu que os preços médios dos imóveis em Dubai “deve continuar a cair entre 1% e 5% na primeira metade de 2015”.

Por que Dubai voltou ao topo dos rankings? Primeiramente, porque ainda é um paraíso fiscal. E, segundo Ahmet Kayhan, diretor-executivo da Reidin, uma empresa de dados sobre o mercado imobiliário, Dubai hoje é muito diferente do que em 2008.

O Banco Central instituiu uma regulamentação mais rígida sobre impostos, limitando a demanda, e o governo promulgou demandas mais rigorosas aos empreendedores que queiram lançar novos projetos, o que fez reduzir a oferta.

Além disso, os impostos sobre as transações imobiliárias aumentaram “para evitar uma especulação rápida e sistemática no mercado”, explicou Kayhan.

Tallinn, Estônia

Com menos de 400 mil habitantes,Tallinn tem alta demanda da geração nascida após fim da URSS

Com menos de 400 mil habitantes, Tallinn tem alta demanda da geração nascida após fim da URSS

 

Enquanto a maior parte da Europa vem se recuperando fortemente desde a crise de 2008, os preços dos imóveis da Estônia estiveram entre os que subiram mais rapidamente em todo o continente. Em 2014, os imóveis residenciais aumentaram cerca de 12,6%.

Além da recuperação econômica, o jornal estoniano Postimees afirma que a maior demanda por habitação está sendo provocada pela geração da chamada Revolução Cantada – os jovens que nasceram quando a Estônia se tornou independente do domínio soviético.

Eles agora entram no mercado como chefes de família e os bancos estão oferecendo empréstimos acessíveis.

Pequim, China

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Excesso de imóveis fez oferta aumentar e preço cair em Pequim

A potência industrial tem a economia que cresce mais rapidamente no mundo, mas está entre os últimos colocados na lista de melhores mercados imobiliários, com preços sofrendo uma queda de quase 5,7% em 2014.

“A China está sobrecarregada de imóveis”, explica Montagu-Pollock, indicando uma sobreoferta de propriedades residenciais no mercado particular. Os preços estão inflacionados e os empréstimos saem muito caros.

Desde o ano passado, muitos analistas do mercado imobiliário vêm esperando que a bolha estoure, o que ainda não ocorreu.

Neste ano, os preços médios das casas continuam caindo. Algumas pessoas estão se preparando para o pior, enquanto outras acreditam que o governo está controlando a situação.

“Baseados nos dados de mercado que monitoramos, não acreditamos que Pequim se recupere logo”, diz Kayhan.

Rússia

Juros de até 17% provocaram queda na demanda por imóveis na Rússia

Juros de até 17% provocaram queda na demanda por imóveis na Rússia

 

Inúmeras mudanças no cenário mundial fizeram o mercado imobiliário da Rússia se manter no fim da lista. Houve a queda no preço do petróleo, que atingiu a economia desse país exportador, assim como a desvalorização do rublo frente ao dólar.

Para evitar uma queda ainda maior do rublo, as autoridades aumentaram as taxas de juros em 17% no fim de 2014 – o que afetou ainda mais o setor imobiliário. Os valores dos imóveis caíram mais de 6% em 2014.

“Os preços estão caindo, e ainda vamos assistir a novas quedas consideráveis”, aposta Montagu-Pollock.

“Há apenas dois anos, um colunista da revista Forbes dizia que a Rússia era um mercado imobiliário aquecido”, baseado em um relatório da Ernst & Young. Mas o setor começou a enfrentar dificuldades no ano passado.

Ucrânia

Preços despencaram quase 49% em Kiev por causa dos conflitos no leste da Ucrânia

Preços despencaram quase 49% em Kiev por causa dos conflitos no leste da Ucrânia

Não é mera coincidência o fato de entre os 41 mercados analisados globalmente, o local com os menores valores para os imóveis seja um país assolado por uma guerra.

A situação política incerta da Ucrânia desestabilizou o país social e economicamente, segundo um relatório mensal emitido pela empresa de private equity SigmaBleyzer.

Houve depreciação da moeda e hiperinflação, e os ucranianos viram seu dinheiro se desvalorizar continuamente e drasticamente.

Os preços dos imóveis despencaram quase 49% em Kiev em 2014. E até agora, 2015 não parece muito melhor.

Os empréstimos para hipoteca vinham com juros de 21,8% no fim do ano passado, tornando a compra da casa própria algo inalcançável para a maioria dos ucranianos.

“A Rússia e a Ucrânia caíram muito por causa das condições políticas”, explica Kayhan. “Sem que a situação se estabilize, os mercados imobiliários desses países não poderão se recuperar adequadamente.”

Fonte: BBC Brasil